Por Decoro (Arthur Azevedo)

Por decoro


Quando me esperas, palpitando amores,

E os lábios grossos e úmidos me estendes,
E do teu corpo cálido desprendes
Desconhecido olor de estranhas flores;


Quando, toda suspiros e fervores,
Nesta prisão de músculos te prendes,
E aos meus beijos de sátiro te rendes,
Furtando às rosas as purpúreas cores;


Os olhos teus, inexpressivamente,
Entrefechados, lânguidos, tranqüilos,
Olham, meu doce amor, de tal maneira,


Que, se olhassem assim, publicamente,
Deveria, perdoa-me, cobri-los
Uma discreta folha de parreira.